A propósito do meu regresso a uma coluna de papel, uma leitora colocou a dúvida no Facebook. Respondendo-lhe, aproveito para fazer um breve zoom à relação dos jornalistas portugueses com os novos formatos da notícia, partindo da minha experiência prática.
R: Depende dos jornalistas. Eu gosto do papel, tenho 30 anos dele, sou (era) dos que fecham a edição nos acabamentos e vão à gráfica, à boca da rotativa.
É claro que gosto de escrever para o papel. Mas não leia nisto nada de saudoso. Não eu: passei os últimos anos a aprender sobre a edição em linha e em rede e a publicar em digital. Se quer saber, isso custou-me algum transtorno na carreira. Digamos que estava um pouco adiantado em relação ao calendário do meu antigo jornal, e até mesmo do jornal para que trabalhei ocasionalmente (Expresso e Público, respectivamente). Formatos jornalísticos rigorosamente inovadores em Portugal, como um newsmap (quando a gripe suína começou), um agregador em tempo real (eleições internas no PSD em 2008) e um dossiê de cobertura total, com gráficos inéditos, das 3 eleições de 2009, foram recebidos com indiferença nos respectivos jornais.
Aos poucos todos os jornais (que se prezam de ter futuro e audiência) recorrerão a esses formatos, pelo que o meu tempo não terá sido perdido :)
Mas voltando à questão: é verdade que há jornalistas, bem como leitores, que continuam a pensar que o papel "é que é" e que a rede é secundária, quando não mesmo desprezível. E não serão tão poucos assim...
Dois aspectos reforçam a convicção deles. O aspecto económico da atividade (ainda não é claro o modelo de sustentabilidade dos jornais online, nem mesmo se existirá um) e, em Portugal como noutros países com algum atraso social, o reduzido número de consumidores do produto jornalístico. O papel e a rádio e a televisão souberam adaptar-se (nem sempre pelas regras do mercado...), o online é demasiado novo e diferente para ter de o fazer.
Em síntese: como profissional, escrevo para onde tiver de o fazer. Eu como qualquer outro jornalista. Gosto do papel mas prefiro os novos territórios da edição e a exploração dos formatos que fazem do jornalismo uma actividade fascinante. Prefiro-os há muitos anos.
Na imagem abaixo, outro dos formatos diferentes de recolher, filtrar e apresentar informação, para benefício dos leitores: um mini-site que apresentava todas as notícias, posts em blogs e tweets sobre as eleições americanas que opuseram Obama/Biden a McCain/Palin, bem como um mapa dos resultados e uma selecção de notícias e artigos (curating) feita por uma equipa Pro-Am. Em 2008 a maior parte desses conceitos era alienígena no jornalismo português.
1 comentários:
Estou cursando jornalismo ainda. Porém trabalho desde 2008 na área de comunicação. Rádio, revista e agora Tv. E mesmo que a internet esteja a todo vapor dentro de nossas vidas, geralmente uso o papel. Porém, sabemos que as ferramentas de edição disponíveis com o avanço tecnológico é ágil e fácil. Escrever no papel em algum tempo será algo histórico, mas não indispensável.
Heitor Mazzoco - Brasil
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